Paulo Conte
Housemate:- You are always listening to the music, aren't you? Why is that?
Mary Flower: - I cannot stand the silence.
Housemate: - That's very philosophical, Mary Flower...
Mary Flower: - I think it's physiological.
Pois e', e' uma coisa estranha. Ate' Darwin considerou que uma das coisas mais misteriosas com as quais o Homem tinha sido dotado era a capacidade para apreciar e produzir musica. Em que e' que gostar de musica ajuda 'a sobrevivencia??!
Ninguem sabe ao certo por que e' que a musica se encontra em todas as culturas humanas (pequena provocacao para quem tenha a certeza absoluta que a cultura e' so' humana), nem por que e' a maioria dos sistemas de musica que se conhecem se baseiam na oitava, nem por que e' que ha' gente tao desafinada. Tambem nao se sabe se o cerebro tem circuitos neurologicos especiais para a musica, ou se utiliza outros circuitos, desenvolvidos para outras funcoes, mas que sao "bons" para a musica. Mas aqui vai o que alguns senhores, nem sempre de bata branca, tem dito sobre o assunto.
Recentemente, a Dra. Anne Blood e o Dr. Robert J. Zatorre andaram a tirar uma especie de "fotografias" aos cerebros de alguns musicos (PET scans), enquanto lhes davam a ouvir trechos de musica escolhidos pelos proprios musicos e que, segundo eles, lhes davam pequenos momentos de euforia, tipo cocegas nos pes (isso e' o que eu 'as vezes sinto...). Os investigadores puseram-nos a ouvir coisas como o Concerto no. 3 para piano de Rachmaninoff, e descobriram que a musica lhes activava sistemas neurologicos de recompensa e emocao, semelhantes aos que sao estimulados pela comida, sexo ou drogas. Hmmm, masturbacao musical?
Se, de facto, a musica depende de circuitos neurologicos desenvolvidos por outras razoes que nao a de apreciar/produzir musica, entao trata-se nao de uma adaptacao evolutiva, mas apenas de um "acidente feliz". Esta 'e a hipotese defendida pelo Dr. Steven Pinker, um psicologo da Universidade de Harvard que se farta de publicar livros, como por exemplo, "How the Mind Works" (1997). Para Pinker, a musica, "por acidente", toca em varias partes importantes do cerebro de uma forma altamente prazeirosa (estou a inventar palavras?), tal como, "por acidente", uma fatia de cheesecake "faz cociguinhas boas" no palato (a expressao e' minha, o Steven escreve melhor do que eu). Algumas dessas partes incluem: a capacidade linguistica; o cortex auditivo; o sistema que responde aos sinais emocionais da voz humana, como e' o caso do choro; o sistema de controlo motor que "injecta" ritmo aos musculos quando se anda ou danca.
Mas ha' quem nao ache que a capacidade para gostar de musica seja um acidente. Darwin sugeriu que os antepassados dos homens, antes de desenvolverem a capacidade para falar, seduziam-se uns aos outros com notas e ritmos musicais. Darwin acreditava que a musica estava associada a algumas das mais fortes paixoes que um animal e' capaz de sentir. Para Darwin, as caracteristicas consideradas atraentes no cortejamento proporcionariam aos seus detentores uma maior dispersao dos seus genes (mais filhotes, portanto).
O Dr. Miller ("The Origins of Music"), um psicologo evolutivo da Universidade do Novo Mexico, desenvolveu a teoria da seleccao sexual de Darwin, reparando nas oportunidades que se oferecem aos musicos mais famosos para transmitirem os seus genes 'a geracao seguinte. Por exemplo, o guitarrista Jimmy Hendrix mantinha uma serie de casos amorosos (sexuais)com as suas "groupies" (aquelas meninas que andam atras dos "grandes" artistas nas tournees), para alem de paralelamente manter "relacoes de longo prazo" com pelo menos duas mulheres, e de ter sido pai de alguns miudos espalhados por paises como os EUA, Alemanha e Suica. Segundo Miller, em condicoes ancestrais, isto e', sem metodos anti-conceptivos, o Jimmy teria uma filharada a perder de vista. Ou, por exemplo, outro dia estava a ver um documentario sobre o Bob Marley, um tipo que morreu de cancro aos 36 anos, mas que teve 7 mulheres (nao sei quantos filhos...).
Mas por que raio haveria uma mulher de escolher uma estrela rock como pai dos seus filhos, em vez de, sei la', um contabilista?
Miller considera a musica um excelente indicador de fitness na luta darwiniana pela sobrevivencia. Visto a musica estar ligada a tantas capacidades cerebrais, remete tambem para a saude do orgao como um todo. E como a musica nas culturas ancestrais (pelo menos) tem estado ligada tao fortemente 'a danca, e' tambem um bom indicador do fitness do resto do corpo: quem consiga cantar e dancar bem esta' a fazer publicidade 'a boa qualidade dos seus genes ("mentais"e "fisicos").
Mas ainda ha' mais teorias interessantes sobre musica e evolucao. Para a semana falo da teoria que sublinha a importancia da musica no cimentar das relacoes sociais e na coordenacao das actividades de grupos grandes de pessoas. E do papel da musica na competicao inter-grupal. E vou falar de criancas e chimpanzes. E de coros religiosos. E de preferencias musicais. NAO PERCA, NUMA TRAVESSA PERTO DE SI!
Agora tenho de me ir dedicar a actividades de subsistencia (blogar nao e' uma actividade de subsistencia, portanto), ao som de Paolo Conte ("Paris Milonga"), para estimular nao-sei-o-que no cerebro que me faz sentir prazer.